A febre dos números no jornalismo agora amplia seu espaço com a intensificação da cobertura da seleção brasileira de futebol. A convocação já rendeu bastante, uma verddadeira orgia. Não sei quantos dos convocados estão lesionados, outros tantos são reservas, há ainda os que participarão de X decisões, os que já estiveram na Copa passada, os que nunca foram etc etc etc.
Não sou contra os números, claro. Mas acho que muitas vezes eles servem mais para ocupar o lugar de informações mais saborosas do que qualquer outra coisa. Os números, na verdade, permitem tantas matérias quantas quiserem os veículos de comunicação.
Se quiserem, vão fazer levantamentos para indicar qual a porcentagem de olhos castanhos, verdes e azuis. Quantos são brancos ou negros. Quantos chutam com a direita e quantos chutam com a esquerda. E mais: os jogadores da seleção, somados, já estiveram em XX clubes, sendo XX% brasileiros, YY europeus e ZZ% de outros países.
Nos números das relações amorosas, quantas modelos eles já namoraram? E os que se casaram, por quantos anos (ou meses), em média, ficaram casados com elas? Quantos deles têm filhos? Qual a porcentagem de meninos e meninas? Quantos pagam a pensão em dia? Somados, quantos tapões já foram dados por eles em namoradas ou mulheres? Caiu o índice de travestis nessas relações?
No âmbito do conhecimento, quantos fizeram só o primeiro grau? Quantos lêem jornal? E quais deles já leram um livro? Quantos sabem onde fica a Europa? Quantas vezes eles vão repetir a mesma frase depois dos jogos até que comece o Mundial? A palavra “professor” será dita em quantas ocasiões? Qual a maior gafe nas entrevistas: “A gente vamos pro tudo ou nada” ou “Agora é correr atrás do prejuízo”?
Há também os números picantes. Qual a idade média em que eles começaram a transar? Qual o ranking com base no número de transas mensais? Levando-se em conta esses números, e tirando-se possibilidades inesperadas, quantas vezes eles ainda vão transar antes da estreia na Copa? Qual o índice de brochadas? (Aqui caberia uma charge com o jogador que mais brocha)
Com a ajuda de cientistas, matemáticos e super-câmeras, quantas cuspidas eles ainda darão até lá? Quantos fios de cabelo eles carregam na delegação? Quantos quilos de coxas (com ranking individual)?
Há também números mais fáceis e óbvios: 46 dedos, 46 braços, 46 pernas, 46 pés. Dá inclusive um belo título com o número 46 grandão. Talvez “46 é o número!” São também 460 dedos. Se ninguém tiver problema nas partes baixas, serão 46 testículos. Faço essa consideração porque há poucos dias, numa roda de amigos, um deles reforçou (talvez por uma jogada de marketing) que tem apenas um testículo. E dois filhos. Ou seja, está aí mais uma prova de que número nem sempre quer dizer muita coisa.
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