Aí está a graça da Copa. Tem gente que fica torcendo para que os grandões sejam eliminados. Pra quê? O que pode ser mais emocionante do que estes dois jogos de quartas-de-final?: Brasil x Holanda e Argentina x Alemanha.
Pena que a Itália saiu. Pena que Espanha ou Portugal vai sair. Os grandes confrontos é que fazem da Copa uma verdadeira Copa. São desses jogos que não nos esquecemos jamais.
O último confronto entre Brasil e Holanda, em 1998, é um dos meus jogos inesquecíveis. Assisti à partida na minha pequena Cafelândia. E me lembro exatamente da hora em que o Taffarel pegou o pênalti decisivo.
Estávamos em vários amigos e familiares. Eu não olhei a cobrança. Fiquei detido num ponto qualquer da rua (estávamos na varanda, onde colocamos a TV), era uma boca-da-noite agradável, quase um calor, mas ainda assim uma noite indecisa, uma noite que ainda não se mostrava por completo, se se fecharia em trevas ou se se iluminaria debaixo de lua e estrelas.
A casa de minha mãe é numa esquina e tudo estava silencioso no entorno naqueles momentos de tensão que antecedem uma cobrança decisiva de pênalti. Então, segurando a mão de minha filha de cinco anos, fixei o olhar num cachorro deitado em frente de uma das casas vizinhas. Ele dormia como se nada de importante estivesse acontecendo, como se dali a pouco não haveria uma explosão de felicidade ou uma terrível frustração.
Segundos depois, o vira-lata saltou assustado com os fogos e gritos que já ressoavam e faziam a noitinha, enfim, sorrir de alegria. As pessoas pulavam ao meu lado e eu ainda levei alguns segundos para me libertar de uma breve paralisia, para deixar de olhar o cachorro a essa altura já devidamente em pé, para ver a rua rapidamente forrar-se de bandeiras e de gente comemorando, para ver a lua distante que começava a se erguer.
O futebol é assim. Curioso, inexplicável. Fantasioso, fundo.
Mas e se fosse Brasil x Eslováquia? Ah, não. Aí, nem o cachorro do vizinho teria se levantado. E nem haveria lua.
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