Outro dia à noitinha, voltando depois da caminhada, avistei dois garotos de talvez nove ou dez anos (está cada vez mais difícil saber se as crianças têm sete ou doze anos) batendo uma bolinha na rua ao lado da praça aqui perto de casa. Um chutava para o outro e o outro devolvia para o um.
Fui me aproximando naturalmente e quando cheguei perto e pude ouvir o som do choque da bola contra os pés dos meninos, um sei lá que nostalgia me tirou pra dançar. É curioso como a mente humana pode despejar tantas lembranças em tão poucos segundos. Foi o que aconteceu comigo num relance.
Passei pelos atletas mirins e ao me afastar um pouco olhei para meus próprios pés, eu estava de tênis, e não consegui me lembrar quando havia dado o último chute numa bola. E nisso veio um desejo repentino de ao menos tocar nela. Foi quando aconteceu: um dos garotos errou a direção e, como num pequeno milagre, eu a ouvi quicar bem às minhas costas.
Fiz pose, dei a maior sorte porque consegui pará-la bem debaixo do pé, ajeitei o corpo e, com uma categoria que estranhei bastante, bati entre a bola e o asfalto, ela subiu um pouco e foi parar nas mãos de um dos garotos. Obrigado, eu os ouvi dizer quase ao mesmo tempo.
Mas, meninos, eu é que agradeço!