(Fotos do site do JC – acima, Yuri; abaixo, Assis)
Yuri e Assis
Eu não os conheci, mas preciso incomodá-los com estas palavras. Não sei bem o que elas são: uma homenagem, um desabafo ou apenas a necessidade de expulsá-las de dentro de mim.
Embora eu seja um cara de certo modo facilmente impressionável, poucas vezes pensei tanto em mortes alheias ao meu círculo de convivência como nas de vocês.
A do Yuri, uma violência brutal.
A do Assis, a chamada morte natural.
Mas o que pode ser mais brutal do que uma “morte natural”?
E nestes tempos, em que a vida parece cada vez mais banal, o que pode ser mais natural do que uma morte brutal?
Elas se entrelaçam cruelmente. Brutal ou natural, acabam com sorrisos, planos, sonhos.
Dizem que para a eternidade uma vida não passa de um segundo, um piscar de olhos.
Mas o caso é que não vivemos em nenhuma porra de eternidade. Vivemos aqui. Agora. Levados adiante pela propulsão de um tempo avassalador cuja dimensão desconhecemos completamente, embora saibamos olhar as horas.
E neste tempo, que marcou até domingo (para você, Assis) e até hoje (para você, Yuri) a linha de duas vidas cortadas por uma fiandeira sem coração, neste tempo de ciladas engenhosas, todas as felicidades e todas as tristezas podem ser extensas demais ou muito curtas.
Penso na janela que abri nesta madrugada, umas duas e pouco ou três horas, talvez bem perto do momento de sua partida, Yuri. Repentinamente sem sono, um calor dos diabos, olhei lá fora e o céu estava todo estrelado. Mas as folhas das árvores da rua não se mexiam.
Até que me virei na cama e num repente senti uma leve brisa varrer minhas costas. E imaginei uma crônica: ela se chamaria “O sopro de Deus”.
Planejei escrever que o prazer daquela brisa em minha pele havia sido tão ínfimo exatamente para que eu compreendesse a essência de todas as alegrias, quem sabe, de todas as felicidades: e não era outra coisa senão que a brevidade as valoriza e as intensifica (as alegrias e, quem sabe, as felicidades).
Assim, Yuri e Assis, por causa de vocês, de sua vida cortada abruptamente, de seus planos estraçalhados, de seus sonhos cadentes num universo infinito, por causa de vocês, eu sinto que preciso ser melhor do que sou, fazer melhor do que faço. Cada segundo importa. Cada instante é fundamental.
Quero reforçar minha intenção de agir com ética e honestidade em minha profissão, com amor e compaixão em minha vida mundana, com paciência e compreensão em minhas incursões espirituais.
Quero dedicar essa minha intenção a vocês dois. E a todos que morrem jovens. Para abrandar minha consciência. Para sentir menos vergonha por continuar vivendo.
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