Hoje um caso curioso repercutiu nas mídias sociais. Uma professora zombou de um cara no aeroporto (porque ele não estaria integrado ao ambiente “glamouroso” com o qual ela parece identificar-se).
Só que, ao invés de condená-la nesta crônica, vou dizer o seguinte: acho que temos uma dívida com ela.
Essa senhora não se escondeu atrás da hipocrisia.
E assim sendo expôs sua face trágica. A mesma face trágica de uma sociedade que publicamente impõe-se a regras politicamente corretas, mas por baixo dos panos… ai, jisuis!
Se eu fosse o cara do aeroporto e tomasse conhecimento do episódio (digo, os comentários preconceituosos no facebook), acho que estaria rindo até agora. De tudo. De mim mesmo, principalmente das frasesinhas bitoladas e acho que até do aeroporto!
Certa vez, lá pelos anos 1980, fomos a Camboriú (SC) salgar a bunda e as coisas não deram muito certo. Para começar, a casa onde ficaríamos simplesmente não estava disponível. O contratempo complicou tudo. Tivemos que ir para um acampamento, de onde logo fomos expulsos (por razões que eu conto outra hora), e depois para uma quitinete, alugada com a grana que levamos para comer!
Estávamos em quatro. Enquanto eu e um dos colegas de turismo subimos ao sétimo andar para vistoriar o espaço, os outros dois ficaram por ali, na escadaria da entrada do edifício, com mochilas e a tralha toda.
Ao descermos, havia uma confusão lá fora. O porteiro ameaçava nossos amigos, ia chamar a polícia porque ali não era lugar de mendigos! Ah! Ah! Ah!
Não havia facebook nem esse exagero todo com episódios banais do cotidiano. Episódios que, ao contrário do estrago que parecem fazer e da ferida suja que deles eclode, servem muito mais para que a gente cresça, para que nossa sociedade evolua ao aprender com seus erros.
Não sei se a sujeita e sua tchurminha glamourosa terão a capacidade de aprender algo com a historinha. Vejo cidadãos se comportarem de maneira semelhante sucessivamente sem que nada possa mudar o rumo das coisas para sua vidinha presa a convenções decadentes.
Mas, em contrapartida, acredito na importância deles (a profa e sua tchurma) para a lapidação social por que passamos, mesmo sendo tão lenta. É como na savana, onde o riso da hiena escapa sem que o pobre animal possa contê-lo. É o aviso para suas presas. As hienas estão aí. Cuidado!
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