Outro dia, fomos passear pela zona rural de Cafelândia, em direção ao Tietê, fronteira com Novo Horizonte. Cafelândia é um município extenso. Deve ter em torno de sessenta quilômetros entre as extremidades mais distantes. Tínhamos a ideia de visitar umas matas que até poucas décadas atrás abrigavam animais de porte. Onça, veado-galheiro etc. Quem sabe, por acaso, um desses bichos aparecesse em nosso caminho…
Mas o que eu vi foi cana. Cana, cana e mais cana. Sim, é um produto necessário à economia. Existem ali perto algumas usinas. Muitas propriedades da região foram arrendadas para o plantio. E seus donos vivem, em alguns casos exclusivamente, da renda obtida com o negócio.
O que me chama a atenção, entretanto, é como a região está desmatada sem nenhum pudor. Em poucas décadas a paisagem foi alterada de modo significativo. De fato, não é uma característica específica de Cafelândia ou qualquer outra cidade. O desmatamento sem critérios moeu a vegetação brasileira no século passado.
Dizem que hoje o Ibama torce o nariz até para o corte de leiteiros, uma praga que se alastra facilmente pelos pastos ou áreas abandonadas. Mas tenho a impressão de que é um pouco tarde. O rigor atual deveria ter sido adotado em meados do século vinte. Talvez assim tivéssemos hoje um equilíbrio razoável para o meio ambiente.
Olhando para todos os governos que conheci e para nossa sociedade “moderna”, não sou capaz de imaginar uma ação de grande escala que possa recuperar ao menos parte do que se perdeu (vegetação e animais). O desapego do homem às suas raízes, a extrema ambição mercantil e a falta de verdadeiras políticas ambientalistas, entre outros aspectos, condenam a terra ao desequilíbrio e à extinção de muitas de suas riquezas.
As pequenas manchas de matas, espremidas entre a cana, são como as raquíticas praças com meia dúzia de árvores em meio às construções das cidades. Não há grau de comparação entre suas extensões.
Em nossa pequena viagem nos caminhos de terra margeados pela cana e por delgadas faixas de mata que se acabam a poucos metros dali, tínhamos a esperança (não a expectativa, mas apenas a esperança) de topar com um ou outro animal de certo porte. Mas, fora os pássaros, vimos apenas um pequeno preá que, já na parte asfaltada da estrada, acelerou o passo para fugir das rodas do carro que avançava de volta à cidade.
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