As novas relações humanas, motivadas ou mesmo mantidas pelas redes sociais, criaram uma vertente que às vezes assusta: trata-se do “misturê-fuzuístico-se-eu-não-jogar-levo-a-bola-embora”.
De modo quase inacreditável, pessoas que se dizem democratas e blablablá desovam uma intolerância impressionante nos mais rasos debates sobre política ou comportamento.
Representantes de uma espécie cômica de narcisismo ideológico, elas tentam impor o sectarismo a partir de um ideário tão facilmente desmontável como uma caneta qualquer de plástico.
E agem como se estivessem realmente inteiradas sobre os temas dos quais procuram se apropriar, geralmente revestidos de toda a sorte de baboseiras e boatarias.
Que porra de liberdade é essa?
Que porra de liberdade de expressão é essa que você não pode dizer que gosta de chuva para os que preferem o sol?
Eu me lembro de uma relação de amizade que tive e de cujas diferenças é possível arrancar todas as impossibilidades de uma boa convivência dentro dos parâmetros atuais criados pela sociedade virtual. Eu votava na oposição e ele no Maluf; eu palmeirense e ele são-paulino; eu lia a Folha e ele, o Estadão; ele era pró-prefeito, eu era contra etc etc. E fora isso, também éramos concorrentes.
Mas essas diferenças, ao invés de estremecer nosso convívio, serviam para nos aproximar, talvez porque discutir ideias seja muito mais produtivo quando nos defrontamos com pensamentos distintos.
Eu e esse grande cara, tão diferente de mim, não teríamos nos excluído ou nos ofendido caso as mídias sociais tivessem chegado trinta anos antes.
Acho que é por isso que me assusto. Porque mesmo hoje tenho amigos que certamente discordam das minhas opiniões ou do meu comportamento, e vice-versa. Quero acreditar que eles não vão pegar a bola e levar embora numa hora dessas. E nem eu.
Tags: Comportamento, Crônicas, Sociedade