O acirramento das disputas eleitorais promete a partir de agora, com o fim da Copa, expor o maniqueísmo cultivado por boa parte de partidários petistas e tucanos. Vem aí mais uma grande guerra entre o bem e o mal, lados antagônicos cujas cores se alteram conforme a origem dos ataques. E no meio do fogo cruzado do insano besteirol que jorrará de fontes variadas o eleitor também faz muito pouco para mudar seu destino de gado encurralado.
Basta acessar as redes sociais ou apurar a audição perto de uma ou outra rodinha de cidadãos dispostos a discutir os rumos do país para compreender um pouco de nossa estagnação política. Os debates são quase sempre rasos e voltados a determinadas figuras públicas, candidatos ou governantes. A velha crença de salvadores da pátria não morre.
É como se o maestro pudesse tocar ao mesmo tempo todos os instrumentos da orquestra.
A Copa acaba de nos dar um exemplo emblemático desse comportamento ainda enraizado, de modo geral, à cultura latino-americana. Neymar era a solução de todos os nossos problemas futebolísticos. Só ele poderia nos salvar de uma campanha vexatória. E quando houve a lesão de sua terceira vértebra, foi como se o time inteiro tivesse se dobrado a uma dor contagiante.
Assim como na seleção, onde a realidade atual do futebol não permite mais a fórmula do “craque e mais dez”, também na política a concepção do caudilho deveria estar devidamente sepultada. Já é tempo de abandonar a defesa cega de candidatos que vão nos decepcionar ali na frente. Precisamos discutir projetos. E então escolher bons nomes para tocá-los.
Pouco importa a figura individual do político desde que ele seja eleito por suas ideias. Hoje, entretanto, caminhamos contra o vento. Basicamente nos importa seu comportamento, sua religião, sua carinha simpática e até sua forma física! Não sabemos quase nada de suas ideias.
Uma seleção de futebol ou um país só evolui com boas táticas. Não há mais Pelés ou Garrinchas e muito menos zagueiros bobos que facilitam a glória dos craques. Assim como não há mais espaço para discursos centrados numa enganosa capacidade individual de candidatos que se lançam ao ataque sem qualquer projeto político, fincados em palavras vazias que murcham tão logo eles chegam ao poder.
A terceira vértebra de Neymar logo estará colada. O vexame dos 7 a 1, não. No futebol ou na política, para a seleção ou para o país, pode ser trágico confiar numa única coluna cervical. Chega de levar joelhada nas costas!