– E aí, meu Blog, blz? Há quanto tempo…
– Fala aí, Marcião.
– Estou meio em falta com você.
– Tranquilo, às vezes é bom dar um tempo.
– É, mas não publico nada aqui desde o dia 22 de outubro. Aliás, o conto que publiquei nem era inédito. Foi uma republicação. Sacanagem, né? rsss
– Eu vi que era, mas, você sabe, aceito tudo aqui.
– Vou ver se não te deixo tanto tempo na mão outra vez.
– Estou sempre à disposição…
– Porra, eu sei disso! Vai ficar aí nessa posição confortável? Ok, ok, ok? Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor?
– Ué, o que você quer que eu diga?
– Não sei. Qualquer coisa, menos ficar tão passivo.
– Engraçado, publico todas as merdas que você escreve e agora você vem me dar essa dura?
– Poxa, não precisa apelar, né?
– Tá vendo? Vocês, jornalistas, escritores e não sei o que mais, são cheios de não me toques…
– Tá certo, peço desculpas. É que hoje não estou num bom dia. Sabe quando você se sente amargo?
- Por quê? Algo específico ou é o conjunto da obra? Ahahahahahah
- Muito engraçado...
- Não, sério, vai...
- Acho que é o conjunto da obra. De repente, bate um sentimento de impotência até diante da necessidade que sinto de escrever pra você.
- Pô, Marcião, escreve aí e pronto!
- Não é tão simples.
- Como assim?
- Sei lá, parece que já escreveram tudo!
- Ahahahahahahhaha... boa!
- Verdade! Às vezes, tenho essa sensação. Parece que tudo que você escreve já foi dito.
- Crise de criatividade ou seria a velocidade da informação?
- Acho que tudo junto. Hoje, por exemplo, pensei em publicar um texto sobre a preponderância dos títulos sobre a prática, isso, bem entendido, em qualquer atividade.
- E por que não escreve?
- Pois é, eu fiquei puto com uma determinada situação e acabei desabafando no facebook.
- Ah, claro...
- Não se chateie, é que textos mais curtos eu só publico lá. Até pensei em publicar vários juntos aqui, mas não sei...
- Bom, mas se você publicou lá...
- Pois é, mas lá, com esses textos curtos, você não consegue entabular uma ideia por completo, né?
- Pois escreva aqui!
- Mas aí muita gente tem preguiça de entrar pra ler, saca?
- É, eu sei...
- Agora à tardezinha, por exemplo, caminhando na rua, me deu vontade de escrever sobre uma cena, mas ao mesmo tempo fiquei pensando: será que as pessoas estão a fim de ler sobre coisas simples, sem sobressaltos, sem bombas, sem decapitações?
- E por que não? O mundo não é essa pólvora toda. Há muita sensibilidade por aí, você sabe muito bem disso.
- Sim, é verdade, mas quando a gente vê todas as futilidades reunidas no universo virtual, dá vontade de chutar o balde.
- Eu acho que você não deveria se preocupar com esse tal universo virtual...
- Desculpe por eu não ser uma dessas gostosonas bombadas. A gente ia fazer muito belfie pra chamar atenção, não ia? Ahahhahahah... Você ia ganhar muita visibilidade...
- E que visibilidade... rsss... Mas qual foi a cena de hoje à tardezinha?
- Nada de espetacular. Ainda estava sol e de repente eu senti uma gota fria na testa. Olhei pra cima e havia uma nuvem baixa. As gotas eram bem esparsas, mas outras pessoas também as sentiam. E aí é que está a cena: eu olhei rua abaixo e divisei uma dúzia ou mais de andantes e todos eles olhavam para o céu e abriam os braços para senti-las caindo sobre a pele.
- Entendo, e o que mais?
- Nada. Nada mais, só isso mesmo. Tá vendo? Você acha que vale a pena escrever sobre isso?
- Bom...
- Ah, para, você não precisa disso.
- Quem pode saber se você não escrever?
- Dá pra deduzir, não dá?
- Não sei, a lógica às vezes se perde entre a simplicidade que faz tanta falta ao mundo, não é?
- Porra, até que você não se saiu mal... rsss
- Acho que você deveria escrever sim. Digo, escrever também sobre coisas que você acha sem atrativos ou simples demais diante da parafernália tecnológica de hoje em dia.
- Talvez você tenha razão, talvez eu escreva sim...
- Pense nisso...
- Vou pensar...