Os dois juntos, sozinhos em casa, tiramos a medida. Enquanto eu segurava, ela esticava a fita métrica. Dezesseis centímetros, das bolas à pontinha. Não era gigante, mas estava acima da média, ao menos segundo uma revista que tínhamos lido. Era finzinho de tarde. Uma tarde que passamos na piscina. Ela ainda vestia aquele biquíni.
Era um biquíni branco com uns galhinhos vermelhos. Tão pequenininho! Até ela mesma às vezes evitava usá-lo. Dizia ai, você não acha que tá muito escandaloso? Mas não estava, eu respondia, torcendo para que ela o vestisse também quando meus amigos estivessem com a gente. Freud explica, vai. Só uso pra você, ela me encostava os lábios quentes.
Ali, enquanto media e fazia brincadeirinhas, ela se empinava de um modo que a peça de baixo quase desaparecia. Depois de enrolar uma guirlanda no quadril, o que lhe dava um aspecto meio indígena, agora ela não ligava para mais nada, a não ser... Bom, eu, pra dizer a verdade, não estava nem um pouco a fim daquilo, de ficar medindo, admirando, essas bobagens.
Ah, mulheres! Isso é tão divertido, ela dizia sorrindo. Não sei o que havia de divertido, francamente. Mas fiquei pensando que o senso de humor das mulheres é tão mais amplo e livre que o nosso, dos homens, que por fim me conformei. Aliás, acho que uma das grandes diferenças entre nós é que nós rimos muito das mesmas coisas de sempre e elas riem um pouco de cada vez, mas de muitas, muitas coisas.
Ok, pode ser uma questão de semântica, de capacidade de observação e percepção, de sensibilidade do raciocínio e várias outras teses, mas é certo que elas se divertem bem mais do que nós com situações muitas vezes imperceptíveis para nosso pobre potencial de digressão, de abstração ou seja lá do que for.
Ah, sim, o conto erótico!
Estávamos lá, na sala da casa dos pais dela, os pais fazendo compras ou passeando, essas coisas que os pais de garotas ricas costumam fazer durante as tardes de sábados em dezembro, ela com seus olhinhos negros faiscantes, seus cabelos pretos ainda molhados, o biquíni quase todo enrolado e sequestrado por seu traseirinho arrepiado, não, ela não é o que dizemos por aí de um mulherão, não tem medidas incríveis, mas é tão sensual, tão erótica!
Ah, homens! Será que perdemos a capacidade de absorver os sinais do erotismo, que muitas vezes não estão apenas nos baldes de silicone das enormes bundas? Será que a eletricidade transferida pelo ar a partir dos olhos, da boca, das palavras, da voz, dos gestos, enfim, será que essa corrente abstrata capaz de nos arrebatar se transformou num acervo morto de hieróglifos engavetados por Brigitte Bardot?
Ela é tão erótica!
Depois de jogar a fita métrica de lado, daquele jeito que as mulheres transformam grandes dramas em velhos badulaques atirados no fundo de uma gaveta qualquer, depois de rir e me chamar de besta, você é chato, devia gostar disso, depois de jogar os dois braços para trás e, com as pontas dos dedos, desenroscar o biquíni que sua bundinha havia sequestrado, depois disso, ela quis enfiar. Deixa que eu enfio, me disse toda animada, e mostrou os dentinhos separados da frente.
Eu ainda estava com o negócio na mão, feito um garoto deslumbrado com o primeiro telefone celular, quando a porta se abriu repentinamente e a mãe dela entrou na sala. Senti meu rosto queimar. E, disfarçando o máximo que pude, passei para a mão dela e esperei que ela terminasse de acoplar o ponteiro na árvore de Natal. Os dezesseis centímetros a mais quase fizeram a árvore tocar no teto. As bolas do enfeite brilharam sob o reflexo das luzes.
Como é que pode? Onde ela encontra tanta magia em algo tão simples? Às vezes, eu também queria ser assim.
Tags: Contos