O segundo turno das eleições municipais brasileiras traduziu-se numa verdadeira batalha travada entre PT e PSDB. E o resultado, indiscutível, deu aos tucanos a vitória numérica e também, digamos, no campo do status. Conquistar capitais como Porto Alegre, Curitiba e, especialmente, São Paulo foi decisivo para as ambições da nova oposição nacional. Claro que os petistas também tiveram suas glórias. Já no primeiro turno, por exemplo, tinham ficado com Belo Horizonte e Recife, por exemplo, centros de grande importância política e eleitoral. Bem, isso tudo, entretanto, já foi destrinchado pelos veículos de comunicação e por seus analistas políticos nos últimos dias. Na verdade, quero servir-me desses números apenas para fundamentar uma breve teoria a respeito do eleitor brasileiro.
Se relembrarmos as eleições para presidente e governadores, há dois anos, quando o PT saiu como grande vencedor, podemos concluir que houve, nesse curto período histórico, uma rápida transformação, ao menos de boa parte do eleitorado. Onde está a sustentação eleitoral obtida pelo PT em 2002? As derrotas em cidades estratégicas do sul-sudeste deixam os petistas em estado de alerta para 2006, mas mostram também como é inquieto e frágil em suas convicções o eleitorado brasileiro. Decerto é preciso admitir que o eleitor comporta-se de maneira distinta quando a eleição é nacional e quando é municipal. Na disputa local, como foi agora, pesam muito os nomes, talvez até mais do que os próprios partidos. Conheço cidades pequenas onde fazendeiros foram eleitos pelo PT. Em outras, partidos desconhecidos encabeçados por gente conhecida chegaram à Prefeitura com um pé nas costas. Contudo, é preciso levar em conta também que nos grandes centros urbanos a militância política com base em agremiações é mais sólida. E foi exatamente aí onde os tucanos fizeram a festa.
A inquietação do eleitor parece ter uma explicação lógica: a de que suas esperanças são sempre frustradas por seus líderes políticos. Todo mundo já sabe que os problemas de um país, principalmente quando este país tem tantos problemas, não podem ser resolvidos de uma hora para outra. O governo Lula, por exemplo, não completou ainda dois anos. Há, porém, um sentimento geral a respeito da necessidade de providências imediatas e enérgicas em diversos setores, o que poderia representar um alento à sociedade. A falta desse alento traduz-se em inquietação, compromete convicções construídas sobre as estruturas do entusiasmo, produz no eleitor a sensação de que é preciso tentar de outra maneira. Não são os petistas os responsáveis por esse sentimento, assim como não foram os tucanos num passado recente, nem Collor no início da década de noventa, e assim por diante. Na verdade, são todos eles juntos: o histórico do poder público brasileiro, em que os anseios populares são sacrificados em nome do interesse político-eleitoral. Quer um exemplo claro? As eleições municipais mal acabaram e as discussões já se voltam para 2006, quando haverá nova batalha nas urnas. Desde já, as cabeças do poder e das oposições vislumbram as teias que irão construir para vencer as próximas eleições. Não há eleitor que agüente tanto circo e tão pouco pão.