No início, era estranho. Ele nasceu diferente dos outros.
Na cidade, veio a rejeição, vieram os beliscões, era maltratado, todos riam dele.
Depois foi expulso. Passou dias difíceis, de muita solidão.
Finalmente, ao descobrir que era na verdade um lindo cisne, o Patinho Feio sorriu: para ele, nada neste mundo podia ser mais ridículo do que um pato.
A passagem
Via o umbigo da negrinha, meio abaulado. Ela chupava cana, e o vento me trazia o cheiro. Era doce o cheiro da baba da negrinha, me acordava, me dava tontura: só não caía porque não tinha os cambitos da negrinha. Eu ficava em pé, vendo aquela coisinha de verdade passar, batendo pé na terra molhada. Foi descendo a trilha no meio dos barracos sujos e tortos, ela também suja – e eu quase que escrevo meio morta, que rimava, mas bem o contrário: estava muito viva, a negrinha, era a própria vida.
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