Por Sândor Vasconcelos
As crenças e superstições são um tempero, um ingrediente a mais no meio futebolístico. Tem o técnico que usa sempre a mesma camisa em decisões, tem o que carrega dezenas de cordões para se agarrar e beijar durante a partida. Há também o torcedor que só vê o jogo usando a cueca da sorte e o jogador que só entra em campo pisando com a chuteira direita. Alguns acreditam, outros acham besteira.
Palmeirense fanático por culpa do meu pai, sou daqueles que quebram radinho e esmurram a porta. Não carrego nenhum amuleto da sorte, mas existe uma maldição que me acompanha: é o “tio do azar”. Pois é, tenho um tio santista que quando assiste a um jogo comigo, o Verdão leva a pior. Sempre!
Foi assim na derrota para o Guarani em 96 pelo Paulista, quando o Palmeiras tinha um supertime e perdeu de 1 a 0, na única derrota palestrina daquele campeonato. Foi assim, no mesmo ano, na final da Copa do Brasil, quando o Veloso entregou a bola na cabeça do algoz palmeirense Marcelo Ramos e os mineiros venceram por 2 a 1. E foi assim em muitas outras oportunidades.
Pois bem, o que importa é que todos os jogos aos quais assistimos juntos, o Palestra sempre perdeu. Eu sabia que era líquido e certo que, se meu tio estivesse junto, o Palmeiras não tinha chance. Fosse contra o Real Madri ou o 4 de Julho de Piriri, o resultado seria um revés. Então, depois de tantas amarguras, não convidava mais o “tio do azar” para ver jogo comigo. Era assim, ele lá e eu cá. Até que um dia resolvi desafiar a sorte...
Era o terceiro jogo da decisão da Copa Mercosul de 2000. O Vasco havia vencido o primeiro confronto por 2 a 0. O Palmeiras ganhou o segundo por 1 a 0, provocando a terceira partida. Reunimos alguns amigos para fazer um churrasquinho. Até pensei em chamar o dito cujo do meu tio santista, mas lembrei de todas as “proezas” anteriores e desisti da idéia.
O primeiro tempo foi um massacre, 3 a 0 fácil e o Vasco não viu a cor da bola. Tudo era festa, só felicidade. Falávamos em enfiar seis nos cariocas. Só que no intervalo, com o caneco garantido, ocorreu-me a pior idéia da minha vida. Isso mesmo, peguei o telefone e liguei para o meu querido tio. Afinal de contas, azar também tinha limite:
- Tio, vem pra cá, estamos assando uma carninha.
- Olha... Será que não vai dar azar?
- Que nada, tio. Impossível. O título está garantido! Vem tomar uma cerveja com a gente. Só por um milagre perdemos esse jogo.
Ele chega, ainda no intervalo, e assiste ao segundo tempo conosco. O final da história nem precisaria contar, mas vá lá... Com três gols do Romário, um do Juninho Paulista e a ajuda imprescindível do meu tio, o Vasco virou para 4 a 3. Até hoje, não conheci um palmeirense que consiga explicar o que deu errado naquele jogo. Acho que só eu sei...
Sândor Vasconcelos, jornalista em São Paulo – sandordefreitas@yahoo.com.br