Embora haja situações em que nós brasileiros já podemos nos considerar mais esclarecidos e conscientes, algumas ainda teimam em ser um verdadeiro desastre. E a campeã absoluta é a prestação de serviços. Essa está apenas engatinhando na vida do país e continua tomando um tempo desnecessário de quem dela precisa e quase sempre deixando a desejar.
Situação I - Quem já esteve num hospital como paciente ou acompanhante deve saber o que é ser acordado várias vezes na madrugada com a entrada atabalhoada de enfermeiros que abrem a porta do quarto com estardalhaço, acendem a luz e vão medir a pressão, a temperatura ou dar a medicação prescrita. Estão fazendo sua parte na recuperação do paciente, mas se o fizessem com um pouco mais de delicadeza, como seria menos penoso! Dificilmente um paciente apresentará uma pressão adequada depois do susto de ser acordado dessa maneira no meio da madrugada.
Recadinho: enfermeiros e enfermeiras e seus respectivos chefes: vocês escolheram uma nobre profissão, penosa pela natureza do serviço e das circunstâncias em que trabalham. E são os primeiros a saberem que ninguém se interna num hospital porque gosta ou por passatempo. Que tal, então, pelo menos durante a madrugada, entrar com um pouco mais de leveza nos quartos dos pacientes? Eles e seus acompanhantes agradecem de verdade.
Situação II – Ao chegar minha vez de ser atendida no guichê do banco, passei para o caixa um papel onde escrevera a quantia que desejava sacar. Isso porque se multiplicam os assaltos conhecidos como “saidinha do banco” e eu não queria divulgar a quantia sacada em voz alta e ser a próxima vítima. Pois foi só o caixa pegar o papel e imediatamente repetiu para mim em voz alta a quantia, para confirmar. Não sei se eu esperava demais do caixa ou quem sabe tenho visto muitos seriados policiais. O fato é que repeti isso em outro banco, em outro dia, e aconteceu a mesmíssima coisa. É, estou esperando demais.
Situação III - Você entra num café, desses super transadinhos que hoje se espalham por toda a cidade. Faz seu pedido e, enquanto espera, vê a atendente muito bem uniformizada pegando a xícara onde vai servir seu capuccino, distraidamente com um dedo dentro da xícara. Você se sente constrangido em chamar a atenção da moça, mas ao mesmo tempo duvida do resto das condições higiênicas do estabelecimento e da maneira como os alimentos são feitos por ali.
Recadinho: senhores proprietários desses cafés super bem transadinhos: de nada adianta caprichar na decoração do ambiente e no uniforme de seus funcionários se não os orientar sobre cuidados básicos de higiene na manipulação de alimentos, copos, talheres e xícaras.
Situação IV - Na sala de espera de um consultório médico que atende clientes de convênios, e por isso marca consultas de 15 em 15 minutos, a recepcionista, de trás do balcão, pergunta em voz alta aos clientes que estão sentados ou em pé, seu telefone, endereço, idade, peso e nome do plano de saúde. Se ele responde, todos os outros vão ter acesso a informações que até prova em contrário deveriam ser privativas. Se o cliente se levanta e vai até o balcão para responder em voz “normal” ou se oferece para preencher seus dados, é malvisto pela atendente, que acha que está perdendo tempo por uma bobagem.
Recadinho: Senhores administradores de clínicas e médicos que lotam suas salas de espera: orientem suas recepcionistas para que chamem o cliente no balcão e lhe peçam os dados em voz baixa. Dados particulares para cadastro não devem ser divulgados como se fosse um jogo de bingo.
Outras situações não menos constrangedoras acontecem a todo momento. São atendentes que bordam tanto as letras e os números anotados em cadastros, que estes se tornam indecifráveis, levando àqueles enganos tão a gosto dos burocratas de plantão. Ou telefonistas, secretários e atendentes que preferem dar uma informação errada a confessar que não sabem informar. E por aí vai.
Prestação de serviços é um setor que por aqui ainda tem muito a evoluir e a se profissionalizar. Mãos à obra, portanto. Consumidores, clientes, passageiros, pacientes e os próprios prestadores de serviço só têm a ganhar se os serviços, simples ou complexos, forem cumpridos com responsabilidade e eficiência.
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