Cachorros e gatos vira-latas são alvos de tiros e maldades variadas praticadas por pessoas consideradas normais; galos e cães são adestrados por seus proprietários para participarem de rinhas, violentíssimas e ilegais, que movimentam fortunas em apostas; no sul do Brasil, na tradicional Farra do Boi, durante a qual só os bois não fazem farra, um bando de bêbados e alucinados corre atrás dos animais pelas ruas, maltratando-os e espancando-os, alegando que a “brincadeira” corresponde à malhação de Judas, já que isso se dá na semana da Páscoa. E, para coroar, essas e outras formas de crueldade contra animais indefesos são vendidas como esporte ou entretenimento. Diz-se que o homo sapiens é o nível mais alto da evolução humana. Se a Antropologia afirma isso, deve ser verdade. Mas uma verdade difícil de engolir diante de fatos como esses.
No quesito entretenimento, rodeios são sempre apresentados em seu aspecto glamorizado, como se os peões fossem os heróis, e os animais, os vilões. O outro lado da moeda em nenhum momento é mostrado, os estômagos não suportariam depois de ser visto o que se passa antes de soltarem um animal na arena, montado por um peão. O animal não corcoveia por estar sendo montado, pois nesse caso ele pararia os saltos ao derrubar o cavaleiro. Continua, porque o que o faz saltar é um artefato de couro ou crina amarrado ao redor de seu corpo, passando pelos testículos, e puxado com força no momento em que ele entra na arena. Os outros recursos para atiçar o animal, tão ou mais cruéis que esse, podem ser comprovados in loco. Tudo para o “show” sair perfeito e animado.
Matar ou ver morrer, humilhar e maltratar os animais por puro prazer ou por dinheiro fazem parte do lado sombrio do ser humano. Que sabe ser criativo, inteligente e generoso, mas sabe também cometer atrocidades que nascem da idéia de que ele é superior aos animais e por isso tem carta branca para lhes fazer o que bem entende. Os peões de rodeio arriscam-se voluntariamente, como ocorre em qualquer atividade perigosa, mas os animais usados por eles não têm escolha. Muitas vezes, os circuitos de rodeio são um atalho na estrada que leva aos matadouros, tal o estado em que novilhos, cavalos e touros são deixados depois de um “espetáculo”.
Se o argumento contrário é a alegação de que essas e outras modalidades de barbárie são uma “tradição" e como tais devem ser mantidas, proponho liberar geral a prática da corrupção e das mutretas na nossa República. Afinal, tradição por tradição, isso também ocorre entre nós desde que os descobridores por aqui aportaram. Ou então arranjem um argumento mais sólido para estimular a continuação dessas práticas hediondas contra animais, pois até prova em contrário, são apenas uma manifestação da crueldade irracional do tal homo sapiens.