“No velório de Adão, a serpente – que havia ficado amicíssima de Eva – pergunta à viúva: vai enterrá-lo vestido com a folha de parreira? E ela responde: ah, vou, mas nem precisava, viu, querida? Uma folhazinha de laranjeira já resolvia. E diz que as duas não podiam mais olhar uma para a outra sob a ameaça de passarem o velório inteiro rindo.” (mais…)
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A origem das coisas: piada de velório
quarta-feira, fevereiro 27th, 2013Primeiro amor com vista para o mar
terça-feira, fevereiro 26th, 2013Do alto do morro, Nando viu aquela onda vindo lá do mar, a maior de todas, sem dúvida. De manhã, ele sentava num muro de contenção a uns vinte metros abaixo de onde morava. Só pra ficar olhando lá longe, a água como num desenho em movimento até espumar na areia. Mas hoje alguma coisa estava errada. (mais…)
No meio-fio
sábado, fevereiro 23rd, 2013Durante todo o tempo em que permaneceu deitada, Flavinha não tirou os olhos da pequena planta, um pezinho raquítico que aparentava um resto de canteiro abandonado. O caule fino como um palito de fósforo, três folhas murchas viradas para o chão feito bocas tristes e, paradoxalmente, a flor despontando festiva, como se o raquitismo dali para baixo não fosse com ela. (mais…)
Meu avô prendeu Hitler
quinta-feira, fevereiro 21st, 2013Para Tarantino
e Hemingway
Contam muitas histórias sobre a Lagoa Seca. E também sobre Hitler. Há quem não acredite de jeito nenhum nas versões sobre sua morte no momento em que ele viu que a vaca tinha ido para o brejo. E há também quem não acredite numa lagoa seca. (mais…)
Um fantasma na rua
terça-feira, janeiro 8th, 2013Como começou eu não sei direito. Sei só como acabou. Maria, na frente, com a criança no colo, protegendo-se da poeira avermelhadona das ruas todas de terra. Ali o asfalto era coisa de rodovia. Eu, ao lado, caminhava latejando felicidade. Atrás da gente, a uns poucos passos, vinha sempre o Arnaldo, inteiro bêbedo, meio caído. Tínhamos, dali a pouco, o batizado coletivo. (mais…)
De sombras e desejos
segunda-feira, janeiro 7th, 2013Eles namoram no cemitério. É lá que se amam. À beira dos túmulos pintados ou mal caiados. Quando a noite cai e o portão de ferro range sob a trava do cadeado, só a lua curiosa e os pequenos arbustos que circundam as ruas vazias os testemunham. (mais…)
Síndrome rara
quinta-feira, janeiro 3rd, 2013
Formidáveis mostram-se as perspectivas da felicidade! Ali está, percorrendo a orla da praia de Botafogo, o servidor público Mério Troncoso Patopas. Jamais foi visto mais exultante. – São misteriosos os caminhos do Senhor – recitou, benzendo-se sob sua rígida religiosidade, um colega muito antigo da repartição onde trabalharam juntos por mais de duas décadas. – Caralho! – admirou-se o colega do futebol das quintas. Ambos, e outros, nunca imaginariam Mério Troncoso Patopas num momento de felicidade exposta. (mais…)
Escritor Lucius de Mello relaciona conto de Borges a ‘Avenida Brasil’ em ensaio
sexta-feira, setembro 28th, 2012Leia ensaio inédito do jornalista e escritor Lucius de Mello, gentilmente enviado ao blog.
Não chores por mim, Carminha
(ENSAIO DE LUCIUS DE MELLO)
Uma mitologia de punhais
No esquecimento aos poucos se desgasta.
E dispersou-se uma canção de gesta
Em sórdidas notícias policiais.
(Jorge Luis Borges – O Tango)
Nos caminhos que cortam as metrópoles latinas um diálogo raro. Avenidas tão distantes tornam-se paralelas com encontro marcado. Cruzamentos que pareciam impossíveis de ser transpostos, estancados por cristalizados sinais vermelhos, são furados, brusca e surpreendentemente, pela imaginação de um ousado ficcionista da tevê brasileira. (mais…)
‘Uísque sem gelo’, de Vitor Biasoli
sábado, setembro 1st, 2012“Ardem as montanhas sobre as minhas costas”. Assim começa o conto que dá nome ao livro “Uísque sem gelo” (Editora Movimento, 2007), do gaúcho Vitor Biasoli. Intensa e mordaz, e de uma sensibilidade desconcertante, a obra reúne doze histórias tão bem fundadas que a impressão é de um fervente caldeirão, bem ao nosso lado, sobre a brasa, exalando aquela leve fumaça que nubla nossa visão e aromas que clareiam nossos sentidos. (mais…)
No bar, à meia luz
terça-feira, abril 10th, 2012Sabe esses caras que adoram se gabar em supostas aventuras sexuais? Meu amigo X é um desses. Ontem, comeu a gostosa da vizinha. Anteontem, a prima. Amanhã vai sair com a irmã da cunhada. E por aí vai. É até divertido. Porque ele sempre exagera, tornando tudo suspeito. Mas não é que outro dia ele, ao menos uma vez, pareceu ter sido sincero? Estávamos num café discutindo negócios e, mostrando-se perturbado, ele interrompeu o papo para me contar o pequeno drama. Dessa vez, deu para acreditar. (mais…)