Chegaram felizes, passearam o dia inteiro. O casal via a tevê e namorava ao mesmo tempo. Os filhos brincavam no computador. A mulher resolve fazer um lanche. Na brincadeira um dos garotos sujou a camisa do pai. O homem avança no pescoço do garoto, o outro começa a chorar, leva um safanão e cai da cadeira; a mãe segura o marido que a empurra contra o armário da cozinha, gritos, latidos de cachorro; (mais…)
Posts Tagged ‘Literatura’
Frágill
terça-feira, abril 7th, 2009Aquela bala de hortelã (completo)
sexta-feira, abril 3rd, 2009Capítulo 1
O verão de 1962 foi de derreter os miolos. Pelo menos era isso que costumávamos ouvir com freqüência nas conversas preguiçosas dos vizinhos e conhecidos quando andávamos pelas ruas logo após o almoço. Não, isso não quer dizer que não havia chuvas. Chovia constantemente. As enxurradas encarregavam-se de trazer muita terra das encostas e despejá-la nas calçadas. Quando o sol ressurgia e as nuvens desapareciam do céu, lá iam os moradores, especialmente os comerciantes, com suas enxadas em punho, raspar os ladrilhos barrentos. Mas esse trabalho pouco adiantava, porque dali a algumas horas ou no máximo em dois ou três dias, o aguaceiro despencava novamente e a lama cobria tudo outra vez. Para nós, estudantes do quarto ou quinto ano, tanto os dias de sol como os dias de chuva representavam ocasiões para aventuras, às vezes bem sucedidas, em outras... (mais…)
Beijo de moça
domingo, março 22nd, 2009Na primeira vez, ela desceu os dois lances de escadas vestindo jeans e blusa branca colada à pele, um fio moreno claro de cintura à mostra. Nos pés, um salto médio. Pendurava bolsa a tiracolo. Abriu o portão, foi para a rua. Até dobrar a esquina, trinta e cinco passos, contados. Esperei. (mais…)
Vozelindo
sexta-feira, março 13th, 2009Alvorecer. Ele parece pisar em falso em seu progresso pela estradinha que liga o pequeno sítio à cidade. Vai meio assim, de banda. O primeiro sol bate em meia face. No encalço, emendam-se os netos pequenos: o Pedro e a Lúcia. De manhã, sempre é assim. Leva as crianças e as verduras. Enquanto estudam umas, vendem-se as outras. (mais…)
Menino deitado no pasto
segunda-feira, fevereiro 16th, 2009O primeiro brilho da noite jovenzinha despontou lá pelos lados das paineiras ainda verdes manchadas dos fiapos brancos do algodão que escapa. Está mesmo entre o tronco e uma galhada longa que inibe a pobre amarelinha ao pé da árvore grande. É lá. Surgiu agora há pouquinho, enquanto esticávamos sobre a pastagem nossos sacos de estopa. Eta, mas que noite calorenta esta aqui. O rumor do brejo lá embaixo sobe como se pedisse o favor duma brisa, aquelas rãs todas e seus sapos preguiçosos chiando por conta de tantos grilos afoitos. Valha-me Deus, Tio Franco, e esses besouros? Mais acima, dentro da sala de porta entreaberta, a chama do pavio ensopado do lampião serpenteia de leve, numa calmaria extrema. Venha cá, Tia Rita. Mas ela não vem. A Tia Rita deitada na grama, quem pode com isso? Mas nem a cadeira ela traz, como antes. Só me sento, menino, só me sento. Agora nem me dá resposta. (mais…)
Viagem
quinta-feira, outubro 30th, 2008Encontrei espaço numa curva do saguão e me sentei no chão, perto da loja de café. Naquelas alturas, o aeroporto Antonio Carlos Jobim não oferecia muito mais conforto do que isso para quem fosse pernoitar por ali. No meu cantinho improvisado já me sentia num razoável bed and breakfast, dada a proximidade da máquina de capuccino e dos pãezinhos de queijo para quando eu acordasse. Eu estava sozinha, esperava a chamada para meu embarque, adiado em muitas horas, e observar meus companheiros daquele albergue improvisado passou a ser uma distração, pois já devorara boa parte do livro que levava na bolsa “para ler na viagem”. (mais…)
Combate ao tráfico
sexta-feira, setembro 26th, 2008Os homens do batalhão de combate ao tráfico vasculharam o pequeno sobrado. O detetor inteligente percorreu cada canto da construção instalada num bairro da chamada neoclasse média, sem nada encontrar. Dentro de seus uniformes de fibra flexível de aço e munidos com as tradicionais pistolas a laser, os soldados apresentaram-se ao comando. A operação fracassara, ao menos até ali, com os métodos legalizados. O Capitão Assíria deu-lhes ordem para descansar, e eles sabiam dos procedimentos a serem adotados a partir daquele momento. (mais…)
A hora da morte
terça-feira, setembro 16th, 2008Contou-me esta história o magistrado Ilídio Fagundes Tourão, digno de um caráter fiduciário à prova de manobras e entrementes aferidos em razoável monta nos meandros do ofício. Por certo, e disso dou fé, não ocorre entre sua altiva história um só processo de que possa ter se saído assim escassamente, nem mesmo este derradeiro, no qual, aliás, meteu-se de jeito. Contou-me esta história o magistrado Ilídio Fagundes Tourão, cujo passamento deu-se às nove horas e um quarto do dia 10 de março último, uma manhã de sol brilhante, como o fora sempre quem ela, discretamente, ali socorria à velhice imposta pela doença e talvez por um sórdido destino. (mais…)
1982, Barcelona
sexta-feira, julho 4th, 2008Tanto tempo se passou! O jovem que eu era já se transformou apenas numa viva recordação de minha memória, hoje tenho filhos que namoram e planejam entrar na faculdade, meu casamento nem sei quantos aniversários completou. Mas assim mesmo não se põe um dia sem que aquelas imagens pairem, nítidas, diante de meus olhos. Primeiro, o zunido do vento breve e violento; depois, o sol insubordinado e veloz; e por fim, o terrível ruído guinchando em nossos ouvidos, ao mesmo tempo em que sobre nossas cabeças o céu se fecha abrupto, como se fosse nos tragar através de suas brumas, e estas num só instante se tornam breu. O que houve de errado para que só a mim, entre tantos outros, restasse a lembrança? Não dizem que somos peças de uma grande engrenagem? Quantas vezes uma só peça, por mais insignificante que seja, compromete toda a máquina? É como penso: sou uma peça assim. (mais…)
Coisas para pensar
quinta-feira, julho 3rd, 2008Está na mídia. O STJ mandou pagarem a Paulo Maluf indenização por uma falsa acusação de paternidade. Oito mil reais. Maluf foi salvo pelo DNA. Como diria um amigo meu, quem quiser mais detalhes, por favor, procure num site noticioso. Este espaço, na verdade, não é para isso. O objetivo aqui são crônicas, contos, artigos e produções afins. Mas, às vezes, cai bem fuçar a realidade. Aí vai um miniconto de horror (qualquer semelhança terá sido mera coincidência): "Então, sarcástico, o doutor deixou à mostra os caninos afiados". (mais…)