Não sei o motivo, mas a cada domingo fico mais tenso à espera do
próximo dia, a segunda. Minha esposa atual, a segunda, vem para mim e questiona meus atos. Diz que tudo que faço tem segunda intenção, o que me deixa muito magoado. Quando vamos passear nos fins de semana, então, ela me conta que passa vergonha dentro do meu carro velho e me questiona com veemência se um dia vou comprar um zero-quilômetro em vez de outro, de segunda mão. (mais…)
Archive for the ‘Colaboradores’ Category
Segundamente – Texto de Otávio Nunes
sábado, dezembro 15th, 2007Três tigres tristes – Texto de Dudu Oliva
quarta-feira, dezembro 12th, 2007O título já dá a idéia da narrativa: refere-se a um trava-línguas* famoso. É um romance com diversos personagens que caminham por La Rampa, o bairro boêmio de Havana, entrando e saindo de cabarés, mantendo longos diálogos. Os personagens estão o tempo todo citando uns aos outros. O livro não é caótico, esta idéia é equivocada. A narrativa é anacrônica, mas os personagens e episódios possuem conexão. Não há um narrador onisciente. (mais…)
Folião por acaso – Texto de Reinaldo Chaves
segunda-feira, dezembro 3rd, 2007Pacífico sempre morou na avenida Sete. Um lugar que já foi melhor no
centro de Salvador. Quando ele era moleque não tinha tanto carro e
camelô. Era até mais charmoso, com calçamentos de paralepípedo e
postes de ferro. Até o carnaval, com blocos de rua, parecia ser mais
amigável. Não que Pacífico desfilasse, sua religião não permitia, mas
gostava de ver os amigos fantasiados fazerem papel de palhaço na rua.
Ele não confessa, porém sentia até uma ponta de inveja daquela
alegria. (mais…)
O que Nelson faria hoje? – Texto de Fernando BH
sexta-feira, novembro 23rd, 2007A vida de Nelson Rodrigues no século 21 seria muito chata. Primeiro, porque iria se irritar com o politicamente correto que predomina hoje. O cigarro, por exemplo, companheiro inseparável do anjo pornográfico: não tem mais o glamour daqueles tempos (recente pesquisa do DataFolha constatou que só 9% dos brasileiros vêem charme nas baforadas). Nelson dedicaria linhas e linhas criticando a patrulha coletiva pela saúde. "Cada um que cuide da sua", vociferaria. (mais…)
Antes ou depois da chuva? – Texto de Lucius de Mello
domingo, novembro 18th, 2007[…] Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí, você que conhece o mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? Me parece impossível. Olha que tenho visto bem coisas estupendas. Vi o Rio em todas as horas e lugares, vi a Tijuca e a Stº Teresa de você, vi a queda da Serra para Santos, vi a tarde de sinoa em Ouro Preto e vejo agorinha mesmo a manhã mais linda do Amazonas. Nada disso que lembro com saudades e que me extasia sempre ver, nada desejo rever como uma precisão absoluta fatalizada do meu organismo inteirinho. [...]
Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim. E como já falei, sentar de linho branco depois da chuva na terrasse do Grande Hotel e tragar sorvete, sem vontade, só para agir.
(Trecho da carta de Mário de Andrade
a Manuel Bandeira, Junho de 1927)
Mário de Andrade viveu uma intensa história de amor com Belém, a capital do Pará. Estar no mercado Ver o Peso, era um dos programas prediletos do poeta paulistano. Lá, onde as palavras e as idéias, em fartura, disputam com os patos, os peixes, os ingredientes da maniçoba, o tucupi, o cupuaçu, o bacuri, o açaí, o artesanato e os curandeiros da floresta, a preferência dos consumidores da subjetividade. Escritores sempre voltam de Belém grávidos. (mais…)
De repente – Texto de Dudu Oliva
domingo, novembro 18th, 2007DE REPENTE
Através da janela protegida por uma grade e com vidros revestidos de insufilme vejo os pombos voando para lá e para cá; o vento balança os fios dos postes e as folhas das árvores. Um passarinho se equilibra num destes fios ao lado da carcaça de uma pipa. As construções cada vez mais altas não permitem observar o morro, onde antigamente a primeira coisa que eu mirava era o verde intenso. (mais…)
Cruz de ferro – Texto de Otávio Nunes
sábado, novembro 17th, 2007Nuremberg (Alemanha), 16 de outubro de 1946
O general Hans Fritz Strudelfen acordou cedo naquele dia frio. Sabia que tinha poucas horas de vida até ser chamado ao cadafalso e receber do carrasco o nó da corda no pescoço. A cena imaginada lhe causou repulsa e de modo instintivo levou a mão à nuca e sentiu uma vertigem estranha e uma sensação de completo abandono, aceitando totalmente a fatalidade. (mais…)
Competente – Texto de Otávio Nunes
sexta-feira, novembro 16th, 2007Não gosto do adjetivo competente. De alguns meses para cá, na verdade,
mais de ano, passei a evitar tal palavra, bem como suas derivadas, preferindo qualificado, capacitado, preparado, apto, experiente, conhecedor… “Ora, não é a mesma coisa”, dirão alguns puristas, que só entendem a palavra no seu sentido individual, de dicionário. Amigos, o sentido da palavra quem dá é o contexto, senhor de tudo. (mais…)
Simples mulheres – Texto de Leonardo Brasiliense
quarta-feira, novembro 14th, 2007Quando meus filhos foram embora de casa, senti que se foi junto minha maternidade. Voltei a ser apenas esposa, mas o meu marido já me via apenas como “a mãe”. Voltei então a ser filha. Dois meses depois minha mãe morreu de câncer.
E-mail: lbrasiliense@uol.com.br
Belmonte e Amaraí – Texto de João Pedro Feza
terça-feira, novembro 13th, 2007
Diz-se que quando um completa o outro igual feijão com arroz é porque a panela achou a tampa. A combinação perfeita no amor também se aplica a outros tipos de relacionamento. Quando amizade (mesmo que tumultuada) e talento se juntam, está feito o estrago no melhor dos sentidos: a audição. (mais…)