Da primeira vez que Lílian entrou aqui, na padaria, notei que era diferente das demais meninas que trabalham nesta rua. Ela é educada, raramente fala palavrões, não fuma, é cheirosa e seus cabelos estão sempre molhados como se saísse do banho a cada minuto. Suas roupas, embora das mais baratas, se amoldam perfeitamente ao seu corpo, como a casca na banana. (mais…)
Archive for the ‘Colaboradores’ Category
Lili erva-doce – Texto de Otávio Nunes
quinta-feira, maio 24th, 2007O Corretivo dos Cordeiros – de Fernando Sorrentino
quinta-feira, maio 24th, 2007O Corretivo dos Cordeiros
(Fernando Sorrentino é escritor, tradutor e romancista argentino)
Segundo notícias de fontes muito variadas – e sempre fidedignas –, ultimamente o Corretivo dos Cordeiros tem aparecido, cada vez com maior freqüência, em pontos diferentes de Buenos Aires e de localidades próximas.
Todas as informações coincidem quanto à descrição da maneira como se dá o surgimento do Corretivo: aparecem de repente, como se viessem do nada, cinqüenta cordeiros brancos; em seguida, lançam-se contra uma vítima – evidentemente pré-escolhida – e em poucos segundos a devoram e a carcomem até deixá-la no osso; e assim, tão subitamente como chegaram, em instantes se dispersam, fugindo em todas as direções. Ai de quem ouse estorvar-lhes a fuga: no início foram registrados muitos casos fatais; depois, os imprudentes em potencial aprenderam a lição e já ninguém se opôs ao Corretivo. (mais…)
Correndo por fora – Texto de Otávio Nunes
quarta-feira, maio 23rd, 2007Sábado de manhã, sol ainda tímido, pedindo licença ao dia, Clésio bate
palma no portão. Sonolento e sem vontade, Jobélio pousa a xícara de
café na mesa e levanta-se para atender o dono das mãos que fazem
aquele barulho chato tão cedo. Pensa ser algum vendedor, ou pregador
religioso e quase desiste de chegar ao portão. Mas vai assim mesmo, a
ruminar alguns impropérios. (mais…)
A dor imortal – Texto de Leonardo Brasiliense
quarta-feira, maio 23rd, 2007É noite clara, de lua cheia. No campo, se ouve apenas o barulho dos bichos, corujas, grilos, a Maria Clara que, sentada na beira do açude, canta versos de amor. São versos de um poeta morto há muito, muito tempo, escritos para sua paixão que fugiu com outro, mar afora, sem nunca voltar. (mais…)
Jesus Cristo, os livros estão aqui – Texto de Lucius de Mello
domingo, maio 20th, 2007Se a fogueira for mesmo o destino dos 10.700 exemplares da biografia Roberto Carlos em Detalhes, recolhidos nesta primeira semana de maio por ordem da justiça, do galpão da editora Planeta, não posso deixar de pensar que, infelizmente, o Brasil também chegou em frente ao portão do Estado totalitário imaginado pelo autor americano Ray Bradbury, em 1966, quando escreveu Fahrenheit 451. Não só chegou ao portão, como também passou por ele para pôr em prática o que no Oriente Médio já é comum e que entre nós ainda era apenas uma história de ficção científica. (mais…)
Esvaziamento (outra versão) – Texto de Dudu Oliva
domingo, maio 20th, 2007Conto de Clarice Lispector (ONDE ESTIVESTES DE NOITE. Editora Rocco, 1999) narra a história de uma amizade e sua deterioração. O conto narra, em primeira pessoa, a história de dois amigos que se separam sem que haja uma briga ou traição. Separam-se simplesmente por não mais haver afinidade e pelo empobrecimento da relação entre eles. (mais…)
Em nome do show – Texto de Leonardo Brasiliense
sábado, maio 19th, 2007A grande fotografia da famosa atriz da pornochanchada, na parede da cela dezoito, surpreende cada nova presidiária. As outras vão logo explicando que ali ninguém é fã. Ela está é presa. Isso mesmo, fotografia presa. Esqueceu de lavar as mãos e foi denunciada pelo sangue da vítima. (mais…)
Um segundo antes
sexta-feira, maio 18th, 2007Não consegui ler a notícia toda no portal, mas o título ficou na memória: “Goma de mascar danifica obra de arte”. Ignoro se a obra de arte era um quadro de alguns milhões de dólares, um manuscrito de um escritor de séculos atrás ou qualquer outra peça valiosa de coleção. O que me importa no momento é imaginar que alguém, com nada interessante a fazer na vida e sem nenhuma noção do que sua idiotice poderia provocar, estragou uma preciosidade. E me pus a pensar em como um pequeno ato de um segundo na vida de alguém pode interferir tão profundamente na vida de outros. (mais…)
Batismo – Texto de Leonardo Brasiliense
quinta-feira, maio 17th, 2007Meu primeiro amor nasceu no primeiro dia da quinta série. Sentada na minha frente, ela vestia uma camisa azul como até ali só minha mãe vestia. As meninas até a quarta série só usavam roupa de criança. Então ela se virou e, narizinho torto e meio arrebitado, perguntou meu nome. Eu o disse como fosse a primeira vez.
E-mail: lbrasiliense@uol.com.br
O RG – Texto de Reinaldo Chaves
quarta-feira, maio 16th, 2007Me abaixei para pegar um documento de identidade que encontrei na rua. Logo vi que tinha o meu rosto, apesar de mais jovem. O nome era outro e a data de nascimento também. Pensei que pudesse ser alguma falsificação, mas o número do documento era diferente do meu.
Guardei no bolso e fui embora pensando no homem da foto. Queria conhecê-lo, saber se é algum parente. No meio da manhã liguei para minha mãe e perguntei se conhecia aquele sujeito. A resposta foi uma pergunta:
- De onde você tirou esse nome? (mais…)