“Fui fazer uma viagem. Volto já. Ass: sonho”
E-mail: dudu.oliva@uol.com.br
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“Maria, Maria, quem traz na pele
essa marca possui a estranha mania
de ter fé na vida”
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Maria Aurelina levanta cedo, faz o café, vai à padaria comprar pães, acorda as crianças para irem à escola e prepara o café com leite delas. Despede-se dos filhos e se encaminha ao tanque, onde quilos de roupa a esperam. Na hora do almoço, refoga dois copos de arroz, pega na geladeira a vasilha com o feijão cozido no dia anterior, frita um ovo e come sozinha, na mesa da cozinha. (mais…)
É noite, e o ar da estação, amarelo. Ao fundo, o trem parado. Na gare há somente um casal de velhos sentados numa grande mala. Um baú atrás. Olham baixo, imóveis. Dali a dois metros as formigas carregam sobras de um inseto morto.
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O porta-retratos tem uma vinheta banhada a ouro sobre madeira lisa. 21 x 14 cm. A fotografia colorida não engana: não era bonita nem feia, a mulher de testa pequena, sobrancelhas grossas, olhos difíceis de interpretar. Tinha ali uns trinta anos, morreu aos quarenta e dois. (mais…)
1. vomitar desilusões assim que surjam
2. não ter vergonha de dar risadas tortas
3. cantar melodias cegas
4. rascunhar palavras surdas
5. não distribuir sorrisos homeopáticos (mais…)
Diferente dos outros da aldeia, não jogava as velhas máscaras no rio; guardava-as cuidadosamente. Quando o visitavam, narrava episódios do passado.
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São ondas de preocupação e alegria que se revezam quando você se vê como avó, principalmente se for de primeira viagem. Nasceu: que maravilha! E tome de lágrimas de emoção. Passa bem: graças a Deus! Perdeu peso: é assim mesmo logo que sai da barriga, não se preocupe! Pegou o peito, o mamilo está machucado, recolhe o leite para dar depois. Está chorando: nossa, é uma fera! Está dormindo: olha só, parece um anjinho. (mais…)
Para cada passeio deslumbrante pelo bondinho do Pão de Açúcar, uma bala perdida ao pé do Pão. Para cada visita ao Cristo Redentor com direito a uma panorâmica do Rio de tirar o fôlego, um assassinato bem ali, seja a vítima brasileira ou estrangeira, não faz a menor diferença para quem aperta o gatilho. Para cada poesia que a Lagoa Rodrigo de Freitas inspira com seu espelho, o choque de saber que a tranqüilidade dos passantes não existe mais, com uma tragédia à espreita em cada curva. (mais…)
Esta historinha idiota começou quando troquei de carro. Na negociação com o vendedor, dei meu veículo velho como entrada e completei o restante com minhas economias. Saí todo feliz da vida ao volante do meu carro novo, embora usado. Logo depois parei no posto para colocar gasolina, pois as lojas têm o costume besta de vender carro com pouquíssimo combustível. (mais…)
Treinou tiro de fuzil, pistola, bazuca. Arrastou-se no chão, atravessou rios, escalou paredões. Sabia obedecer às ordens e entendia de pronto as estratégias superiores. Na trincheira, morreu de frio.
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