Archive for the ‘Contos’ Category

O medo

quarta-feira, março 6th, 2013

Quando o Sr. Mendonça apareceu na porta da lanchonete naquela tarde de outono, todos se voltaram para ele. Sempre se comportavam assim. Era numa dessas cidadezinhas onde, ao final do expediente, muitos conhecidos se encontram em certo local para beber ou comer ou só para conversar. E o local era aquela lanchonete, onde sempre que alguém entrava os que já estavam lá se viravam para dizer um cumprimento qualquer, uma saudação alegre e descontraída.

Mas naquele dia, quase ninguém levou a cabo o velho hábito. (mais…)

A origem das coisas: piada de velório

quarta-feira, fevereiro 27th, 2013

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“No velório de Adão, a serpente – que havia ficado amicíssima de Eva – pergunta à viúva: vai enterrá-lo vestido com a folha de parreira? E ela responde: ah, vou, mas nem precisava, viu, querida? Uma folhazinha de laranjeira já resolvia. E diz que as duas não podiam mais olhar uma para a outra sob a ameaça de passarem o velório inteiro rindo.” (mais…)

Primeiro amor com vista para o mar

terça-feira, fevereiro 26th, 2013

Do alto do morro, Nando viu aquela onda vindo lá do mar, a maior de todas, sem dúvida. De manhã, ele sentava num muro de contenção a uns vinte metros abaixo de onde morava. Só pra ficar olhando lá longe, a água como num desenho em movimento até espumar na areia. Mas hoje alguma coisa estava errada. (mais…)

No meio-fio

sábado, fevereiro 23rd, 2013

Durante todo o tempo em que permaneceu deitada, Flavinha não tirou os olhos da pequena planta, um pezinho raquítico que aparentava um resto de canteiro abandonado. O caule fino como um palito de fósforo, três folhas murchas viradas para o chão feito bocas tristes e, paradoxalmente, a flor despontando festiva, como se o raquitismo dali para baixo não fosse com ela. (mais…)

Meu avô prendeu Hitler

quinta-feira, fevereiro 21st, 2013
Uma das últimas aparições de Hitler

Uma das últimas aparições de Hitler

Para Tarantino
e Hemingway

Contam muitas histórias sobre a Lagoa Seca. E também sobre Hitler. Há quem não acredite de jeito nenhum nas versões sobre sua morte no momento em que ele viu que a vaca tinha ido para o brejo. E há também quem não acredite numa lagoa seca. (mais…)

Um fantasma na rua

terça-feira, janeiro 8th, 2013

Como começou eu não sei direito. Sei só como acabou. Maria, na frente, com a criança no colo, protegendo-se da poeira avermelhadona das ruas todas de terra. Ali o asfalto era coisa de rodovia. Eu, ao lado, caminhava latejando felicidade. Atrás da gente, a uns poucos passos, vinha sempre o Arnaldo, inteiro bêbedo, meio caído. Tínhamos, dali a pouco, o batizado coletivo. (mais…)

De sombras e desejos

segunda-feira, janeiro 7th, 2013

Eles namoram no cemitério. É lá que se amam. À beira dos túmulos pintados ou mal caiados. Quando a noite cai e o portão de ferro range sob a trava do cadeado, só a lua curiosa e os pequenos arbustos que circundam as ruas vazias os testemunham. (mais…)

Síndrome rara

quinta-feira, janeiro 3rd, 2013


Formidáveis mostram-se as perspectivas da felicidade! Ali está, percorrendo a orla da praia de Botafogo, o servidor público Mério Troncoso Patopas. Jamais foi visto mais exultante. – São misteriosos os caminhos do Senhor – recitou, benzendo-se sob sua rígida religiosidade, um colega muito antigo da repartição onde trabalharam juntos por mais de duas décadas. – Caralho! – admirou-se o colega do futebol das quintas. Ambos, e outros, nunca imaginariam Mério Troncoso Patopas num momento de felicidade exposta. (mais…)

Maktub

quarta-feira, dezembro 12th, 2012

Adoração dos Reis Magos
Quadro Adoração dos Reis Magos

Quatro reis magos foram avisados que uma criança muito especial havia nascido em Belém, num local de difícil acesso.

Cada um a seu jeito se preparou para a longa viagem, e três providenciaram presentes para levar ao recém-nascido. (mais…)

No bar, à meia luz

terça-feira, abril 10th, 2012

Sabe esses caras que adoram se gabar em supostas aventuras sexuais? Meu amigo X é um desses. Ontem, comeu a gostosa da vizinha. Anteontem, a prima. Amanhã vai sair com a irmã da cunhada. E por aí vai. É até divertido. Porque ele sempre exagera, tornando tudo suspeito. Mas não é que outro dia ele, ao menos uma vez, pareceu ter sido sincero? Estávamos num café discutindo negócios e, mostrando-se perturbado, ele interrompeu o papo para me contar o pequeno drama. Dessa vez, deu para acreditar. (mais…)