Archive for the ‘Crônicas’ Category

Que venham as ressacas

sexta-feira, setembro 2nd, 2011

Sempre acontece em épocas de ressaca no litoral carioca. Refiro-me às da orla carioca por serem as mais próximas a mim, as que tenho oportunidade de assistir. É um bonito espetáculo, além de assustador, ver as ondas invadindo as calçadas, arrastando o que está à sua frente e deixando seu rastro de areia quando começam a amainar. Como os olhos de Capitu. Mas reconheço que só é prazer para quem está ali de espectador, como eu, e não para quem perde seu dia de praia ao sol, o quiosque, o carro, a bicicleta ou outro bem. (mais…)

O evangelho, segundo a festa gay

segunda-feira, agosto 29th, 2011

Bem à minha frente, um rapaz de uns dezoito anos talvez e uma garota quem sabe um pouco mais nova se beijam continuamente; dois ou três passos adiante, um cara alto e loiro beija a orelha de um negro e os dois dançam ao som animado de Preta Gil; muito perto de mim, uma família que inclui uma criança de dois anos assiste ao show; as crianças se divertem, os homossexuais se divertem, os heterossexuais se divertem. Eu nunca havia ido a uma parada gay. Não por preconceito, mas apenas por questões circunstanciais. Desta vez, peguei o final do evento em Bauru. E o show também (Preta é uma ótima animadora de palco!). (mais…)

Adeus, Deco: velho amigo irmão

sábado, agosto 20th, 2011

Esta foto é da década de 1980; estou à esquerda ao lado de Eli (então namorada do Deco) e do próprio (à direita)

O Deco (com o “é” aberto) morreu neste sábado. Recebi a informação por volta de meio-dia. Havia acabado de acontecer. Eu ainda estava deitado, ouvindo cair lá fora uma chuva intermitente, uma chuva boa nestes dias secos. A moleza característica ao acordarmos em dias assim transformou-se em prostração dolorida quando do outro lado da linha o jornalista Sérgio Bento me disse que havia uma “notícia brava” vinda de Cafelândia. Mal tive tempo de pensar no que poderia ser até que ele me dissesse que “o Dequinho teve um enfarte fulminante”. Ele era jornalista nascido em Pirajuí, mas vivia em Cafelândia havia mais de quarenta anos. (mais…)

A caminhada e o garoto de bicicleta

quinta-feira, agosto 18th, 2011

Retomo aos poucos minhas atividades físicas, que considero fundamentais para minha sobrevivência. Assim como experimento o estímulo impressionante da cafeína após meus (no máximo) dois cafezinhos diários, também sinto a endorfina produzir seus efeitos como se um sol particular nascesse diante de mim. Fiquei parado durante algumas semanas, nem sei explicar o porquê. Mas o fato é que desde já lamento o que perdi nesse período. Porque caminhar é também vivenciar uma crônica da vida. (mais…)

Manifesto aos amigos

terça-feira, agosto 2nd, 2011

O que dizer aos amigos bem numa hora dessa?
Tenho medo de destoar. De que tudo se amolde mal.
De escorregar. De azedar. De adoçar.
É que todas as palavras soariam falsas ou piegas.
Todos os elogios cairiam no descrédito.
Todas as exclamações pareceriam evidentes.
Todos os obrigados seriam banais.
Todas as lembranças resvalariam no oportunismo.
Todos os sorrisos lembrariam disfarce.
Todas as lágrimas verteriam dúvidas.
Todos os abraços se fechariam cômicos.
Todas as bocas se abririam hesitantes.
Todos os beijos estalariam mortos.
Todas as emoções escapariam abruptas.
Todos os sentidos explodiriam insensatos.
Porque agora, bem por este agora, tudo em mim é gratidão.
É crueza. É pele em flor. É crença.

Pois hoje eu vou lhe mostrar

quarta-feira, julho 20th, 2011

Não sei quais as dúvidas que você ainda tem a meu respeito. Mas hoje eu acabo com elas de uma vez. Porque sou aquele cara que não gosta de deixar dúvidas. Gosto de tudo muito explicado, senão a boca esquenta, você pode me compreender? (mais…)

Conversa na praça com um casal de namorados

quinta-feira, julho 14th, 2011

Faz tempo que eu estava planejando, mas não me chegava a coragem. Ontem, sei lá o que me deu, venci minha terrível timidez e falta de jeito para começar um papo, e fui matar minha curiosidade. Falei com o casalzinho de namorados que vejo de vez em quando na praça. Há outros que se sentam lá, mas esse me chamou a atenção porque tanto ele quanto ela me parecem realmente apaixonados. E é incrível como o amor, quando aparenta ser verdadeiro, atrai também quem não tem nada a ver com a história. No caso, eu. (mais…)

A morte ao sol do meio-dia

terça-feira, julho 12th, 2011

(“O sol poente”, obra de Tarsila do Amaral)

Os homens a atiraram ao chão. Houve um momento de silêncio, segundos de apreensão. Como podem seres humanos agir desse modo? Como se o caso fosse nada mais do que um simples ato do cotidiano? Não sabem os segredos que ela guarda? As alegrias que abrigou? As tristezas que escondeu? (mais…)

Vou dizer tudo a você!

sexta-feira, julho 1st, 2011

Hoje eu vou dizer tudo a você. Todas as coisas que me fazem perder o sono, me distrair ao volante, divagar enquanto tento concentrar-me no trabalho. Vou pegar o telefone, discar seu número e despejar meus segredos, minhas frustrações, meus sofrimentos. Minha saudade. (mais…)

Estranho sonho com amigo morto

quarta-feira, junho 29th, 2011


Sonhei na noite passada com um amigo que morreu há um bom tempo. Era desses amigos bem relaxados mesmo. Mais velho, bebia pra caramba e era o maior mentiroso que já conheci. Mas o mais engraçado é que, ao contrário de muita gente que nos conta mentiras e ao mesmo tempo nos irrita, ele tinha o dom de contá-las de um modo que, depois, não tínhamos outra saída que não fosse rir. (mais…)