Archive for the ‘Crônicas’ Category

Se um santo vira diabo, isso não quer dizer que todos os diabos vão virar santos

sábado, julho 16th, 2005

Francamente, não estava nos meus planos escrever sobre as atuais desgraças políticas do país. Mas, confesso, é difícil para qualquer cidadão, jornalista ou não, isentar-se de opinião sobre o assunto. A minha – o leitor que não se desespere – é curta e grossa. E é esta: não é porque de um dia para o outro o santo virou diabo, que todos os diabos se transformaram em santos. (mais…)

Conselho de Nelson Rodrigues

sexta-feira, julho 15th, 2005

Nelson Rodrigues dizia – não sei se tantas ou poucas vezes – que, em vez de ler muitos livros, as pessoas deveriam dedicar-se a reler alguns, e reler sempre. Quem sou eu para contradizer Nelson Rodrigues? No entanto, como qualquer outro reles mortal, tenho todo o direito de discordar dele ou de quem quer que seja. (mais…)

Relação com a morte

quinta-feira, junho 16th, 2005

Um provedor de internet, se não me engano o UOL, fez um anúncio por estes dias para divulgar seu serviço de e-mail e lançou mão de um velho e eficiente recurso, que dificilmente deixa de chamar a atenção das pessoas: a piada que usa a morte. O rapaz chega todo brincalhão a um certo lugar e, não tendo recebido a tempo uma mensagem eletrônica, desconhece que ali há o velório de alguém. Ao perceber o fora, ele fica encabulado, e os demais, constrangidos. (mais…)

O coqueiro

sexta-feira, maio 20th, 2005

O coqueiro está lá, embaixo da janela, e me faz lembrar daquele prédio construído numa esquina por onde eu passava a toda hora. Um dia, topei com a obra pronta: – mas o que há? Quem botou isso aí?

Pois com o coqueiro foi do mesmo jeito. Da janela da cozinha, no quinto andar, espiei lá embaixo e o flagrei, na margem da matinha, segurando um cacho de cocos verdelões, redondinhos. (mais…)

A dignidade persiste

terça-feira, fevereiro 15th, 2005

Um alento que vem das ruas, onde pisa o povo, onde há mil motivos para desanimar diante dos reveses do cotidiano, onde a frágil decência que nos envolve abre-se em fraturas expostas à indiferença das chuvas e dos sóis. Eis o alento: a dignidade sobrevive em meio ao salve-se-quem-puder. De minha parte, deparei-me com esse alento quando cheguei ao topo da humilhação. (mais…)

Nossos dramas

sábado, fevereiro 12th, 2005

Um dos meus contos preferidos de um dos meus autores preferidos é aquele em que Anton Tchekov narra as frustradas tentativas de um cocheiro que deseja desesperadamente contar a alguém o drama da morte de um filho, mas não consegue, até que… Bem, se você ainda não leu “Angústia – a quem direi minha dor?”, fica aqui a recomendação. Pois bem. Assim como Iona, que é o nome do protagonista do conto, é que me sinto nesses dias em que inevitavelmente nos forçamos a reflexões. (mais…)

Cadê o jeito de fazer?

domingo, janeiro 16th, 2005

A negligência ou o simples descuido com certas doenças pode transformá-las em terríveis epidemias. O mundo inteiro sabe disso e em épocas distintas testemunhou as trágicas conseqüências dessa realidade. Neste início de 2005, um dos males que se alastra perigosamente tem seu foco contagioso fincado no meio político. (mais…)

Apelo(ação)

sexta-feira, novembro 12th, 2004

Há vozes que me dizem para seguir essa estrada. São tantas (vozes) que nem sei: um clamor. Eu as ouço. Não é possível ignorá-las, pois surgem aos meus ouvidos sem que eu as espere. São capazes de inventar e reinventar modos para convencer-me sob seus mandamentos. (mais…)

Matula

sábado, maio 22nd, 2004

Viajo regularmente a trabalho. Pelas rodovias, as figuras de homens que andam sem rumo colam-se à paisagem. Às vezes, surge também a silhueta feminina. Sob farrapos, lá vão eles, de barba crescida, pés quase sempre descalços, sacos nas costas. Para onde vão? A direção não importa. Só lhes resta isto: seguir em frente (viram como “seguir em frente” nem sempre significa algo bom?). (mais…)

Influências

terça-feira, abril 20th, 2004

Agora há pouco na rua, voltando do almoço, com a Fer e a Ana Clara, saí-me com esta: - "puxa, mas que sábado sorumbático!" Um pouco antes, eu havia passado no posto de combustível, e o frentista: - "o dia está estranho..." Hoje, as nuvens entrincheiram-se no firmamento como se fossem defender-se numa guerra, um céu cinza e tristonho recobre nossa região. É curioso como a redoma natural que nos envolve provoca influências no ser humano. (mais…)