Archive for the ‘Impressões’ Category

Saudades

quarta-feira, março 19th, 2003

Talvez seja um pouco tarde, pois o Campeonato Brasileiro já até começou, mas a final do Campeonato Carioca, entre Vasco e Fluminense, foi assustadora. Para quem viu os grandes dias de Maracanã, para quem viu o poderoso Flamengo de Zico, Júnior e cia., a máquina tricolor, o próprio Vasco de Roberto Dinamite, o Bota cheio de glórias e até o América de Luisinho, foi um desalento acompanhar o show de indisciplina dentro e fora do campo. Que saudades do Maraca teatralizado com grandes intérpretes da bola!

Gaúcho

domingo, março 16th, 2003

Através de e-mail, acabo de conhecer o escritor Leonardo Brasiliense, do Rio Grande do Sul. Escreveu-me o Leonardo para dizer que gostou de meu livro, o romance Parabala. Ficou também de me enviar seus dois livros de contos (Meu sonho acaba tarde, WS Editor, Porto Alegre, 2000, e Des(a)tino, Ed. Sulina, Porto Alegre, 2002), que eu já espero ansioso. Muito legal saber que minha obra mereceu elogios espontâneos de um escritor como o Leonardo. Para quem está começando na literatura, as dificuldades para divulgar um livro são dantescas. É mesmo um trabalho de operário esta divulgação. Você que me honra com sua leitura pode me ajudar?

Fome zero

quarta-feira, janeiro 8th, 2003

Quantas vezes já dissemos: “preciso comer, sem comer não consigo pensar”? Por uma necessidade do corpo e da mente, quem tem fome só pode mesmo pensar em comida. Nós outros, entretanto, que temos fome e podemos saciá-la, não devemos perder a noção da realidade: o prato de comida mata a fome, mas não elimina a miséria. Pois bem, matemos a fome e criemos condições para assassinar cruelmente a miséria.

Mudança

terça-feira, janeiro 7th, 2003

A transformação da política, também bastante complexa, é mais veloz do que a transfiguração social. Esta metamorfose, em parte dependente da outra, é lenta e requer estímulo contínuo, combustível incessante. Num círculo familiar, por exemplo, uma gorda herança ou um tiro certo na loteria pode alçar meia dúzia de habitantes a um razoável patamar social. O diabo é que não há herança ou loteria capaz de dar jeito, do dia para a noite, na miséria nacional. Então, ficamos assim: alto lá com a esperança exacerbada. Mas também não vamos entregar os pontos. Isso nunca.

Vapor

domingo, dezembro 29th, 2002

O homem sem planos é uma água empoçada: vai aos poucos evaporando. Mas, como toda regra tem sua exceção, excluamos dessa verdade o mau político. Ele quase nunca evapora. Talvez seu plano seja mesmo apenas este: não evaporar.

Abuso

domingo, dezembro 22nd, 2002

No elevador, na calçada ou onde for, privo-me de um carinho destinado à criança dos outros. Só o faço na presença dos pais, e olhe lá. Como posso dar o que mais precisa a criança, se nessa hora, sugestionado pelos ventos, alguém pode confundir meus amores?

Ontem

quinta-feira, dezembro 19th, 2002

Às vezes, no olho do furacão, consigo divisar à margem, plácidas, minhas recordações. Quero alcançá-las e afagá-las, mas não posso mais. Tenho até a impressão de que elas caçoam de mim. Também, quem mandou pararem no tempo?

Bush

terça-feira, dezembro 17th, 2002

Atacar ou não atacar, eis a questão. Bush é, em geral, o arquétipo da sociedade moderna. Não queremos mais saber se somos ou não somos. Desejamos apenas discutir se atacamos ou não atacamos. Shakespeare que se dane.

Fome

segunda-feira, dezembro 16th, 2002

A constatação de que ser rico num país como o nosso passou a ser pecado está ultrapassada. A dinâmica da pobreza é fantástica. Os parâmetros deterioram-se velozmente. Digo isto: depois do almoço, por mais que eu escove os dentes, custa a abandonar-me o gosto amargo da saciedade.

Ilha

domingo, dezembro 15th, 2002

Engraçado. Estou me culpando há várias semanas por ter parado ao meio a leitura de “A Ilha do Dia Anterior”, de Umberto Eco. Andei patinando no claustro de Roberto, sabe? É que antes li “Baudolino”, de quem estou morto de saudades.